PESCADA FUNESTA
À uma hora da tarde do dia 24 de março, Miguel Sobrinho, Sobrinho de Miguel “Foguinho”, conhecido pirotécnico da cidade, sofreu um acidente ao tentar pescar com bombas caseiras no rio Taioba. Não se sabe direito qual era seu plano, já que um peixe bombardeado torna-se impróprio para consumo e uma bomba jogada na água costuma não explodir. O que era para ser apenas uma malfadada tentativa de pescaria ganhou contornos dramáticos quando a bomba caseira estourou em sua mão, produzindo um estampido discreto mas forte o suficiente para ser ouvido pelo hippie da cidade, que passava por ali e acionou os primeiros socorros.
O doutor Raimundo compareceu ao local prestando os primeiros socorros. Procurado, Raimundo deu o seguinte boletim médico: “A bomba não fez muitos estragos porque não era primorosa. O garoto foi salvo pela sua incompetência. Mas ele é jovem, vai se recuperar bem. Caso seja necessário algum tipo de amputação, optaremos pelo dedo mindinho, que não tem funcionalidade. Alguns dizem que tal dedo é responsável por 50% da força da mão, mas isso é balela. A força da mão está no braço”.
ENFERMO
Teodorico não acordou bem hoje. Está com sintomas inespecíficos. Perguntado onde dói, limitou-se a responder “tudo”. Pediu para avisar que se encontra indisposto para qualquer tipo interação social, mas, “por milagre divino”, não perdeu o apetite. “Quem quiser me enviar comida, pode deixar na soleira da porta. Menos sopa. Sopa tem aqui. O que não tem: tortas, carnes de panela, frango assado e doces em geral”, informou. Teodorico, se estiver lendo essa edição, o expediente da Tribuna lhe estima um pronto restabelecimento.
Quem nunca foi no 1º Tabelião de Notas de Araçoióba e esboçou um sorriso genuíno ao se deparar com a estupenda coleção de canetas do Augusto, exposta em seu guichê? É impossível se manter carrancudo após ser atendido por ele. “Augusto é uma espécie de doutores da alegria do cartório. Se você tem a sua senha chamada por ele, sabe que tirou a sorte grande. Ele vai mostrar suas novas canetas, te deixar apalpá-las, escrever com elas... agora se for chamado pelo outro lá, é aquela experiência modorrenta de sempre”, teria dito um citadino que preferiu ser manter em anonimato.
Augusto se gaba não só pela extensão de sua coleção (“236 da última vez que contei. todas funcionando”), mas também por possuir 2 artigos raros em sua coleção: “O item mais valioso é uma caneta vermelha que tem uma televisãozinha transmitindo eternamente o rosto do Zack Efron. Um outro colecionador já chegou a me oferecer 2.000 reais por ela, mas não adianta, eu não vendo. A segunda caneta mais valiosa é uma caneta normal, de tinta preta, mas foi a caneta que o Getúlio Vargas rascunhou a carta de suicídio. Tem um rapaz lá em Pernambuco, colecionador também, que alega que a caneta do Getúlio está com ele. Mas a minha eu peguei com parentes do próprio falecido. Se ele não escreveu a carta, escreveu um monte de outras coisas importantes com ela. O rapaz lá de Pernambuco, enganaram ele, coitado. Como a caneta foi parar ali, pra começo de conversa?”.
O jornal não tem uma seção fixa de charges porque, após o incidente com a grotesca caricatura do padre Hermes, nenhum outro citadino se aventurou nessa nobre arte figurativa. Mas hoje temos o deleite de anunciar que nosso bacharel em direito e estudante de concursos, Marcel Ygor Alexandre, no enviou uma charge. E ameaçou enviar outras nas próximas semanas! Junto à charge, foi anexada uma mensagem que Marcel orientou-nos a publicar logo antes do desenho, nem abaixo nem em cima dele:
Estou estudando história e notei que muitos períodos históricos rendem ótimas tiradas de humor. Essa, por exemplo, que fiz em um momento de franca engenhosidade, é sobre como podemos estar interpretando de maneira errônea as pinturas rupestres. Nós frequentemente as consideramos singelas imagens do cotidiano, quando, na realidade, tais códigos pictóricos podem estar querendo comunicar mensagens muito complexas, do mesmo nível de perguntas de provas de concursos. Muitas pessoas acreditam que advogados não são capazes de ser engraçados. Acredito que essa charge seja prova irrefutável de que tal premissa não passa de preconceito propagado por “artistas” que temem perder seus empregos para advogados. Pois alerto: vocês deveriam se preocupar mesmo. Esse risco é real.
Sei que não é recomendável que o autor da charge a explique para o público, mas, assim como os homens das cavernas, temo ser malcompreendido. Se mesmo com essa explicação alguém não entender a charge ou não achá-la engraçada, aí eu já posso fazer nada. Esforcem-se um pouco e serão recompensados com boas risadas.
Excelente. Desejo rápida e plena recuperação para o Teodorico. Como colecionadora de canetas eu mesma, fico feliz com a representação da categoria no jornal, me sinto vista (mas não muito, o que é ideal nesses tempos em que tudo é muito exposto o tempo todo). Por fim, parabenizo o colega advogado e estudante de concurso pela profunda análise da condição humana expressa em traços breves. Seguimos